quinta-feira, 17 de dezembro de 2009



CONFECOM:

Ditadura

da liderança

dos

movimentos

sociais

sobre sua base



Durante o processo da revolução russa, não ocorreu a prometida ditadura do proletariado, que é a única democracia possível. Deixando de lado os ideais preconizados anteriormente, para a transformação, o que aconteceu, de fato, foi a ditadura dos líderes sobre o proletariado. [ “Ditadura do proletariado, a única democracia possível”: http://www.midiaindependente.org/pt/red/2008/10/432128.shtml ]

Esta história vem se repetindo em outros países, o que não foi diferente no processo da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).

Primeiro, meses atrás, os representantes dos movimentos sociais nacionais desconsideraram a decisão das Comissões Estaduais, que, em sua maioria, recusaram a proposta do governo e dos empresários, de dar a estes 40 % dos delegados e 60 % de votos para aprovação de temas sensíveis, os quais os capitalistas da mídia podem escolher ao seu bel prazer.

Alegam "nossos melhores quadros" que o governo impôs-lhes tal critério, na base do "ou é do nosso jeito, ou não tem Confecom". Tudo é feito para agradar aos empresários da comunicação, sem qualquer limite na submissão da liderança dos movimentos sociais aos interesses dos petistas, os quais também dominam a representação dos movimentos sociais. Tudo que eles querem, é encher o caixa de campanha da Dilma, agradando seus financiadores, para os quais trabalha o inconstitucional e impune oligopólio da mídia.

Ontem (14/12), mais uma vez, as entidades dos movimentos sociais que participam da Comissão Organizadora Nacional (CON) traíram novamente aos interesses de suas bases, aceitando que o limite de 60 % para temas sensíveis fosse também aplicado aos Grupos de Trabalho (GT), coisa que não estava combinado anteriormente.

Minutos antes da abertura do evento, a ABRA - Associação Brasileira de Radiodifusores, solicitou uma reunião para dizer que, se os movimentos sociais não aceitassem esta condição, deixariam a Confecom, como seus 200 delegados, como a Rede Globo já o fez, meses atrás.

Acreditando ser importante manter estes empresários para legitimar a Confecom, entidades como a Fenaj - Federação Nacional dos Jornalistas, ABCCom - Associação Brasileira de Canais Comunitários a Cabo e ABEPEC - Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais votaram no sentido de aceitar a exigência dos capitalistas.

À noite, quando foram prestar contas de sua decisão aos delegados dos movimentos sociais presentes à Confecom, constatou-se o abismo existente entre eles e a cúpula.

Enquanto os que conduziam a plenária, faziam de tudo para impor sua tese, a base, em sua quase totalidade, defendia que sua liderança havia extrapolado os limites do bom senso e teriam de voltar atrás na decisão que tomaram. Neste processo, uns 300 delegados vaiaram solenemente as entidades que contribuíram para este estrago, chamando-as insistentemente de golpistas e pelegas, termo destinado para quem procura amaciar a relação entre classes, buscando a conciliação, ao invés do confronto de classes.

Mesmo após tamanha manifestação, as lideranças ainda fizeram de tudo para adiar a votação das propostas, literalmente, empurrando-a com a barriga, noite adentro e tendendo para a madrugada, quando não haveria mais ônibus para voltar ao hotel. Após a plenária insistir várias vezes gritando “vota, vota, vota”, os condutores do encontro se viram obrigados a respeitar a vontade dos presentes. Assim, ficou decidido que a liderança deveria procurar os empresários e desfazer a decisão anterior, sabendo-se, de antemão, que se estaria correndo o risco da ABRA abandonar o evento.

Encontrando com um diretor da Fenaj, com o qual convivo eventualmente, em Belo Horizonte, comentei o fato, obtendo como resposta que sempre houve esta diferença entre as posições das lideranças e das bases. Retruquei que, numa ditadura, sempre é assim, o que jamais deveria ocorrer num ambiente verdadeiramente democrático.

Hoje, na plenária em que se discutia o regimento da Confecom, a base votou contra temas sensíveis nos GT, derrubando a decisão dos ditadores do movimento social.

Foi um momento pequeno, porém simbólico de que esta dominação, um dia, poderá mudar. Assim, a base do movimento social, independente da conciliação de classe defendida por seus “legítimos” representantes, espera que, na plenária final, derrubará o critério de tema sensível e mantido a tradicional a aprovação com apenas uma maioria simples.

ABAIXO A DITADURA DOS LÍDERES SOBRE O PROLETARIADO!